Reaprendendo antigos habitos

Caboclo e Mameluca
3 min readDec 17, 2020

Meus pais tinham algumas regras em casa e uma dela era nos reunirmos no domingo para o “evangelho”, meu pai lia um livro com lições de vida, parábolas e histórias de como nos desenvolvermos espiritualmente e sermos pessoas melhores. Depois da leitura ele e minha mãe conversavam sobre o tema e nos ensinavam sobre valores, o que era “certo e errado” e o que as parábolas significavam. Após essa breve discussão meu pai pedia que a gente fechasse os olhos e nos concentrássemos nas suas palavras, ele nos guiava para uma espécie de meditação, onde imaginávamos uma luz que nos envolvia, que envolvia nossos familiares, amigos e que se estendia para nossa comunidade, cidade, Pais e o planeta, muitas vezes eu só chegava na parte de imaginar a luz e dormia logo em seguida… no final da reunião ele agradecia e desejava que estivéssemos prontos para mais uma semana e que colocássemos em pratica os ensinamentos.

Eu era criança essa época e não sabia muito bem o que essa prática significava, fui crescendo e vendo outras pessoas também participarem, tios, primos, amigos e a cada semana mais pessoas estavam presentes. Elas vinham por vários motivos, para pedir ajuda, para buscarem um caminho ou para encontrarem conforto nas palavras. Eu cresci, me mudei e os encontros para mim foram ficando cada vez mais esporádicos e difíceis de eu estar presente. Quando eu tinha a oportunidade de participar via sempre pessoas diferentes participando com o objetivo de acabar com o sofrimento delas e sempre pedindo por coisas que para mim pareciam banais, isso fez eu me distanciar de algo que sempre gostei e mesmo meu pai dizendo que temos que respeitar a necessidade das pessoas e ajudá-las mesmo que o pedido delas pareça sem sentido eu torcia o nariz e acabei parando de fazer parte e perdendo a conexão com aquele momento.

Para mim os encontro semanais eram uma aula, onde meus pais ensinavam sobre valores e como sermos pessoas mais responsáveis, respeitosas, amáveis e era onde dividíamos nossos ensinamentos, nossas experiencias e conversávamos. Era uma hora da semana que estávamos conectados como família, aprendendo e imaginando luzes e sentimentos bons que era possível através do pensamento transmitir para outras pessoas. Era simples e magico e não pedíamos nada só agradecíamos. To falando tudo isso porque ontem, depois de uns 15 anos sem me reunir com a minha família para dividirmos esse momento, eu novamente me conectei com um dos meus irmãos para a prática do “evangelho” que comecei a chamar carinhosamente de grupo de estudos.

Ele se reúne com amigos para discutir textos, lições e parábolas de como nos tornarmos melhores e cada um traz um pouco da sua história, conhecimento e vivência. Foi tão rico discutir ideias com pessoas com histórias diferentes e acabar descobrindo que estar com pessoas com o mesmo objetivo faz no fundo a gente aprender. Me emocionou ver meu irmão e irmã (cunhada que tenho um grande amor) conduzirem com grande afeto essa reunião tão linda, de discussão e conexão de pessoas. Eu me senti criança de novo podendo fazer parte desse momento tão especial e tenho que confessar que tive vontade de no final da reunião pedir algo… pedir para participar desses encontros e estar em conexão com pessoas tão queridas que temos o privilégio de conhecer nessa caminhada.

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Caboclo e Mameluca

Breve reflexões sobre a vida de um menino e uma menina pelo mundo